E, também, porque eu não estou no Brasil há duas décadas. Logo, posso estar escrevendo sobre algo que chegou superfaturado ao meu conhecimento.
Tenho ouvido e lido muitas reclamações, por parte dos meus irmãos motociclistas, que o trânsito e a educação dos motoristas no BR (Brasil) está insuportável.
Quem mais sofre com isso são os motociclistas de bem, que tem família para cuidar, respeita as leis de trânsito, paga os impostos em dia,....
É bem verdade que os motoristas, de 4 rodas ou mais, não gostam dos motoboys, por eles saírem costurando o trânsito, fazendo malabarismo entre os carros, danificando uns e outros, etc. Mas, isso não justifica o ódio estendido à toda classe motociclista.
Há, também, alguns jovens que gostam de "aparecer", fazendo acrobacias em plena avenida. Esses não devem ser considerados motociclistas, muito menos aptos a conduzir qualquer veículo automotor.
Mas, vamos nos atentar aos motoristas (de carros, busão e caminhões).Até a década de 80 (1980~), ainda era possível encontrar bons motoristas no BR. Mas, com o passar do tempo, o trânsito foi ficando mais selvagem, e os motoristas também.Isso se deve ao declínio da educação, tanto intelectual como moral, como dizem algumas pessoas.
O que era deixado de aprender (ou ser ensinado) nas escolas, era "comprado" e "vendido" nas ruas. As auto-escolas vendiam, junto com os examinadores, "uma ajudazinha" nos exames práticos. Os pretendentes à habilitação, na sua grande maioria, sempre procurou passar pelo método do mais fácil e "seguro". A máfia da habilitação é uma realidade no BR, só as autoridades é que não veêm.
Aliás, tudo no BR passou a ser feito sob as "vendas de favores". Quem pode pagar não precisa suar. O oportunismo virou uma marca registrada do povo brasileiro. Passar a perna no próximo para beneficiar a si mesmo é o que há.
O respeito ao semelhante é relíquia do passado, assim como o respeito às leis. Só há uma lei que o brasileiro respeita e cumpre: a lei de Gerson. Veja no Youtube como iniciou essa lei:
Mas, voltando ao trânsito do BR que mata mais que uma guerra, quero apontar outras questões que "ajudaram" a chegar ao ponto em que se encontra hoje.
É sabido que o brasileiro gosta de automobilismo, principalmente de F1, e, que o BR teve grandes pilotos nessa categoria: Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Airton Senna.Todos venerados e idolatrados de norte à sul, de leste ao oeste do país.
Essa paixão pelo automobilismo e pelo seus ídolos, causou uma mistura explosiva e perigosa ao se juntar à tradição brasileira do culto à lei de Gerson.
Era, e é comum ver motorista tentando imitar esses pilotos. Abusam da velocidade nas ruas e rodovias, abusam da "arrancada" nos semáforos, fazem ultrapassagens arriscadas e proibidas em vias públicas. Cada um tentando ser melhor que o compatriota.
Uma coisa é ser PILOTO de F1 e estar num AUTÓDROMO e numa "MÁQUINA" desenvolvida para suportar acelerações e frenagens extremas; outra é ser motorista de habilitação comprada numa RUA de paralepípedos, num fusca sem manutenção e ruim de freios.
Eu trabalhei, aqui no Japão, com um brasileiro. De vez em quando pegava carona para o serviço (50Km de distância), com ele. Quando aparecia um carro mais lento na pista, ele logo tratava de ultrapassar. E sempre repetia a mesma ladaínha: "O BR tem o Airton Senna, o Japão só tem o Nakajima."
Pois é, o Japão AINDA TEM o Nakajima, o BR nem o Senna não tem mais.
Neste começo de século, surgiu uma nova doença psíquica: o complexo de fugir do complexo de Rubinho. Em outras palavras: sai da frente que eu não sou o Rubinho Barrichello.
O trânsito, por si só, tende a ter o seu grau de violência, com os acidentes que se tornaram uma rotina. Mas, há uma violência que vem aumentando assustadoramente no trânsito, em todas as cidades brasileiras.
É a violência pós acidente, em que os envolvidos num acidente banal de trânsito (pode ser uma batida) tentam resolver na base do braço, soco, pontapés, balas,... de quem é a culpa. Quem estiver em maior número, ou armado, leva vantagem. Eu chamo isso de síndrome ou complexo de Piquet.
Por que complexo de Piquet? Se vocês acompanharam a carreira do piloto de F1 Nelson Piquet, sabem do que estou falando. Quando ele pilotava pela Brabham, sofreu uma acidente com o piloto chileno(?) Eliseo Salazar. Logo que os carros pararam, Piquet saiu aos murros para cima de Salazar. Veja vídeo:
A culpa principal é do próprio cidadão que se esforça somente para se beneficiar. Não importa comprar uma habilitação. Não importa passar os outros para trás.
Todo cidadão brasileiro sabe que mesmo ele sendo culpado, a lei sempre vai estar do lado dele, não do Estado.
Veja que se um motorista matar um pedestre num acidente, ele não vai preso imediatamente, responde ao processo penal em liberdade e não perde a habilitação. Que eu saiba, esse sistema só ocorre nos países subdesenvolvidos.
Aqui no Japão, matou vai preso na hora e responde todo o processo encarcerado, só sendo libertado caso haja provas legítimas de inocência. Mas, sendo um acidente carro x pedestre, o réu só seria inocente se fosse o pedestre que tivesse atropelado um carro, matando o motorista, pois o motorista sempre está em VANTAGEM e o carro seria sua ARMA no trânsito, logo, mesmo inocentado, o motorista teria uma pena de alguns anos (não a máxima) e sua habilitação cassada. Alguns outros países DESENVOLVIDOS tem um sistema parecido com o daqui.
Por isso, só vejo uma solução para acabar com a selvageria do BR: mudar essa lei que permite qualquer réu responder em liberdade, aplicar multas pesadíssimas, cassar a habilitação e carceragem de 1 a 3 anos para os motoristas julgados inocentes, em caso de acidentes com mortes, e carceragem com mais de 15 anos para os culpados. Feito isso, investir pesado em educação no trânsito, na fiscalização de auto-escolas, na propaganda sobre conscientização de segurança no trânsito e na valorização da vida humana.
Num acidente, 90% da culpa é do motorista, outros 10% divide-se entre a pista e condições climáticas. Por que se chegou a essa conclusão? Porque se um motorista IRRESPONSÁVEL passar por uma estrada mal conservada num dia de chuva, a probabilidade de acontecer um acidente com ele é 5 vezes maior do que com um motorista RESPONSÁVEL na MESMA situação.
Ainda continuarei este post .